sábado, 10 de janeiro de 2009

Dor e silêncio na despedida das vítimas de acidente com monomotor

Três vidas marcadas pela paixão à família e o gosto por aeronaves. Dessa maneira definiram os muitos amigos que acompanharam ontem os sepultamentos do casal Antônio e Irene e da filha deles, Elise, no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Eles morreram na queda do monomotor em que viajavam para o Rio de Janeiro. Com a presença certa de mais de cem pessoas, o silêncio prevaleceu sob o sol das 10h30, horário dos enterros. Muitos ainda estão perplexos e incrédulos com a tragédia. “Se pudéssemos mudar o rumo das coisas, seria bom. Mas quem poderia imaginar que uma tragédia dessa fosse acontecer?”, questionou João Martins da Silva, 61 anos, amigo de Antônio há mais de 50 .
Ninguém da família Barbosa Pereira poderia imaginar que o Natal de 2008 fosse representar uma festa de despedida. A família inteira se reuniu para comemorar o 25 de dezembro na residência do casal. “Todos estávamos lá, mesmo porque é tradição nos reunirmos nessa data. Sei que todos se lembrarão desse dia com muito afeto. Hoje, frente a essa tragédia, só podemos agradecer todo apoio oferecido pela equipe de buscas, a Prefeitura de Betim e de todos os amigos que estiveram ao nosso lado”, disse o advogado e sobrinho de Antônio e Irene, Maicon Prata da Mata.
A prefeita de Betim, Maria do Carmo Lara, esteve presente na despedida das vítimas. Ela comentou sobre o seu amistoso e longo convívio com todos eles. “Há mais de 40 anos conheci o Antônio, um homem muito dedicado à família, empresário excepcional e um amigo que sempre esteve ao meu lado. Um apoio certo em qualquer época. É muito triste ver uma família terminar dessa forma tão brusca e violenta. A tragédia abalou toda a cidade ”, disse.
O aposentado Osório Aleixo, 64 anos, conheceu Antônio ainda na infância. “Onde hoje é o Bairro Bom Retiro, em Betim, existia a Fazenda Cardoso. Crescemos juntos e ter perdido meu amigo é um impacto muito grande. Sinto muito”. Outro amigo de Antônio, com quem viajou de avião por oito vezes, com o empresário no comando da aeronave, o ex-piloto da Aeronáutica e de uma extinta empresa aérea nacional, Nardele Leal, acredita que uma falha mecânica tenha provocado o desastre com o monomotor Bonanza em sua viagem para o Rio de Janeiro. “Ele já tinha feito esta viagem pelo menos umas oito vezes anteriormente e, por isso, não acredito que tenha errado a rota ou a altitude de vôo para aquele corredor aéreo. O avião passava por manutenções periódicas e fica difícil pensar em uma pane. Mas pode até ter o ocorrido o choque de uma ave com o motor, que poderia ter comprometido seu funcionamento”, disse.
Leal, que durante sua carreira militar já participou de duas investigações de acidentes aéreos, contou que é impossível determinar alguma falha mecânica ou estrutural no avião de Antônio Pereira diante dos grandes estragos que a aeronave sofreu com a queda. “O motor, por exemplo, que seria uma parte maior, praticamente se desfragmenta em milhares de pedaços e impede uma investigação que pudesse determinar se foi a causa da queda”, explicou.
O piloto conta que uma vez tendo o motor parado de funcionar, um avião como o Bonanza, na altitude em que estaria naquele trecho do corredor, que seria em torno de 900 metros, poderia planar por no máximo três minutos. “Um tempo muito curto para se procurar um local para um pouso de emergência, mas é um procedimento que todo piloto tem que cumprir naquela emergência. Mas a tipicidade do terreno, com várias encostas e morros altos, certamente impediu uma manobra de sucesso”, lamenta Leal.