Uma estudante de 13 anos foi morta em um tiroteio, na porta da escola onde estuda, no início da tarde de ontem, no Bairro Novo das Indústrias, na Região Oeste de Belo Horizonte. O crime ocorreu na Rua Maria Beatriz, quando Naiara Martins Bonifácio saía da Escola Estadual José Miguel Nascimento, por volta das 13h30, e foi atingida por uma bala perdida. O alvo dos tiros era o adolescente L.C.M., 17 anos, que era perseguido por dois homens armados, que tentaram matá-lo, em um possível acerto de contas por causa do tráfico de drogas na região, segundo as primeiras investigações da polícia. Um suspeito, de 22 anos, foi preso horas depois, no bairro.
Os tiros foram disparados no momento em que centenas de crianças chegavam à escola para o turno da tarde e foram obrigadas a correr e buscar refúgio para não ser atingidas. L.C.M., baleado nas costas, foi levado para o Hospital Júlia Kubitschek, onde seria operado ontem. Segundo informações do hospital, ele não corria risco de morrer. As aulas na escola, onde estudam cerca de 1.500 crianças e adolescentes, foram suspensas ontem, nos turnos da tarde e da noite, e hoje, nos três períodos.
Naiara estudava no turno da manhã, na 8ª série, e havia ido buscar uma prenda que havia conquistado na festa junina da escola. O portão estava aberto porque, além da chegada dos estudantes da tarde, havia uma reunião do Bolsa Escola no local. Quando a estudante estava saindo, L.C.M. e os dois homens que o perseguiam corriam no passeio, em frente ao portão da escola, disparando suas pistolas calibre 380. A menor não teve como fugir e foi atingida nas costas por um dos tiros.
O pai da estudante, o supervisor de manutenção Jercilei Francisco Bonifácio, 43 anos, divorciado da mãe da menina, estava traumatizado. Sua principal preocupação era saber se havia condições de doar os órgãos de Naiara para, segundo ele, “ajudar pessoas que estão precisando”. “As pessoas que fizeram isso podem ser presas e, pouco tempo depois, estar na rua outra vez. Mas elas podem esperar, porque vou cobrar justiça. Quem fez isso, deve pagar. Espero que a polícia prenda esses criminosos”.
A mãe da estudante, Adriana de Oliveira Bonifácio, 33 anos, chegou ao local e perguntou o que havia acontecido. Quando viu o corpo da filha no passeio e soube que ela estava morta, quase desmaiou e começou a chorar.
Perseguição começa em bar de rua movimentada
De acordo com testemunhas, L.C.M. estava no Bar do Bené, na esquina das ruas Maria Beatriz e Junqueira Neto, um dos locais mais movimentados do bairro, bebendo e jogando em uma máquina caça-níqueis. Dois homens, em uma motocicleta, chegaram ao local, armados. Antes que disparassem os primeiros tiros, L.C.M. saiu correndo pela Rua Maria Beatriz, em direção ao portão da escola. Os dois homens perseguiram-no, atirando sem parar. Baleado, L.C.M. conseguiu se aproximar do portão, para tentar escapar. Nesse momento, Naiara saía da escola e também foi atingida.
Peritos do Instituto de Criminalística, acreditam que a estudante não teve tempo de fugir dos tiros. Os dois homens continuaram disparando e, ao perceberem que L.C.M. havia entrado no pátio da escola, fugiram. “Eu escutei o barulho e pensei que fossem bombinhas de festas juninas”, disse uma comerciante, que pediu para que não fosse identificada. “Mas logo percebi que eram tiros e procurei me esconder”. Segundo ela, o bairro “é tranquilo”, mas admitiu que o tráfico domina a região.
O delegado Marcelo Augusto Couto, chefe da Delegacia de Homicídios/Barreiro, determinou a abertura de inquérito. Segundo as investigações iniciais, os dois homens queriam matar L.C.M. em um acerto de contas possivelmente ligado a drogas. No final da tarde, a Polícia Militar já tinha o apelido de um suspeito, e o nome completo de outro, que foi detido no bairro, horas depois. Mas não havia prova concreta sobre suas participações no crime.