O crescimento da Rede Record nos últimos anos está entre os principais motivos que levaram a Rede Globo a voltar a exibir reportagens com denúncias já arquivadas pela Justiça, tentando atingir lideranças da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
O Jornal da Record qualificou ontem à noite como desesperado o tom em que os apresentadores do Jornal Nacional levaram ao ar informações que buscavam comprometer a Record e a IURD. E atribui essa reação ao crescimento de audiência, faturamento, contratação de mais profissionais e quebra do monopólio da informação. Para se ter uma ideia, e emissora dos Marinho usou dez minutos de seu jornal para atingir a imagem da Record. No SBT, o tempo dedicado ao assunto foi de quatro minutos e, na Bandeirantes, dois minutos.
Na Jornal da Record apresentado ontem, revela-se que não é novidade a família Maria usar sua emissora para atender a seus interesses, como já havia feito ao apoiar a Ditadura Militar, ao tentar fraudar as eleições, como as de 1982, além da manipulação descarada do debate entre Lula e Collor, em 1989. E a Globo manteve-se nessa linha, como ao tentar impedir a reeleição do presidente Lula em 2006, num golpe contra a democracia.
O poder da família Marinho teve origem exatamente durante a Ditadura Militar, período em que, por um acordo com os generais golpistas, a emissora conseguiu sua concessão de canal. Na época, a Constituição proibia associações com grupos estrangeiros, mas a Globo se associou à Timelife, fazendo um investimento de US$ 6 milhões.
Um dos efeitos de como a Globo se incomoda com a perda de audiência e o crescimento da Record está representado nos programas de tevê da última terça-feira. A Record, no dia em que a Globo exibia as denúncias infundadas, ficou em primeiro lugar no Ibope por cinco horas e meia. A liderança foi garantida por programas como Fala Brasil, Hoje em Dia, A Fazenda e CSI.
Outro ponto que incomoda a Globo é que todos os investimentos feitos pela Record têm colaborado na democratização do acesso à informação, e ajudaram a quebrar o monopólio que tanto prejudicava a democracia e o Brasil.
E no mês de setembro, o grupo Record lança o R-7, um portal que promete revolucionar o mercado de notícias pela internet.
Ainda na reportagem de ontem do Jornal da Record, mostrou-se como o dinheiro doado pelos fiéis da IURD é aplicado em programas sociais que atendem milhares de pessoas em todo o país. A Sociedade Pestalozzi, de São Paulo, é uma das entidades apoiadas pelos projetos. Há ainda ressocialização de viciados, ajuda a jovens carentes e presidiários. Revelou também que o trabalho começou há 32 anos. Hoje é reconhecido é em 174 países. No Brasil, são 8 milhões de seguidores.
Em nota, A IURD disse que confia na Justiça brasileira e tem certeza que o Poder Judiciário é isento e não se influencia por pressões de qualquer grupo, nem mesmo o de uma organização que tenta manter o monopólio da informação em prejuízo do Brasil.
Já o advogado Artur Lavigne, que defende a IURD, afirmou que são regulares e legais as operações agora contestadas pelo Ministério Público e entregues à Justiça. E sugeriu que tudo não passaria de tentativa de “requentar” o caso.
“A minha defesa é a mesma desde 1994, ou seja, que há absoluta regularidade com relação a isso. E eu repito: o Supremo Tribunal Federal já decidiu concretamente sobre esse fato com o arquivamento do inquérito”, disse.
Ele afirma que o processo atual repete o argumento de outras ações anteriores e que já foram arquivadas. Portanto, não há lavagem de dinheiro. “A origem disso tudo é desde 1992, quando foi adquirida por alguns fiéis da Igreja Universal a TV Record do Rio de Janeiro. Nessa época, houve um empréstimo no exterior para a aquisição da receita, os fatos relatados terminaram no Supremo Tribunal Federal, que decidiu pelo arquivamento”.
O advogado indica que as empresas apontadas pelo Ministério Público como suposta fachada para a movimentação do dinheiro pago por fiéis como dízimo já foram fiscalizadas pela Receita Federal e tiveram suas contas aprovadas.
Também o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) critica a ação. “É um processo requentado. Essa tese de que a igreja recolhe as doações do fiéis, manda para o exterior e depois repatria para o enriquecimento dos seus membros e a compra de veículos de comunicação é de 1993 e já fomos absolvidos. O caso foi investigado pela Receita Federal, Polícia Federal, Interpol e FBI e fomos inocentados, inclusive pelo Supremo Tribunal Federal.”
“ As reportagens estão erradas quando dizem que a denúncia foi aceita pelo juiz. O juiz somente recebeu a denúncia e deu um prazo de dez dias para a defesa se pronunciar. Depois de ver nossas alegações, é bem provável que o juiz não aceite a denúncia”.
A queda do feudo e da audiência global e velhas práticas
Carlos Oliveira(*)
O crescimento da audiência e do faturamento comercial da Rede Record pressupõe que alguém esteja caindo em graus, números e gêneros. Quando em um determinado mercado um grupo começa a ficar forte, significa que hegemonias estão sendo quebradas e alguém está ficando fraco.
Quem tem acompanhado o embate entre a TV Record e a TV Globo percebe o quanto a outrora “todo-poderosa” “Vênus Platinada” tem tido o seu brilho embaçado pelos avanços em graus, números e gêneros de sua principal concorrente.
A Record tem mostrado a que veio: lutar e alcançar a liderança do mercado televisivo, antes dominado sem nenhuma preocupação pela Globo.
O assombro global acentuou-se ainda mais com o advento das TVs a cabo. Com esse novo cenário, a globalização, ironicamente, obrigaria a emissora a rever sua costumeira fórmula de gerar notícias para sua conveniência.
O desespero a levou a promover campanhas que beiravam o ridículo e que sugeriam tentar manter a imagem que ela mesma (TV Globo) criou como a guardiã oficial dos interesses da nação e da preservação da cultura – cultura esta que sugeriria a indução de um povo quanto ao que se deve vestir, falar, acreditar e em quem votar.
A tentativa dos Marinho não logrou êxito, sobretudo no campo da política, onde seu apoio ou oposição a qualquer que fosse o candidato a um cargo político passou a não fazer muita diferença.
O falecido ex-governador Leonel Brizola e o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, são exemplos clássicos do apático e debilitado feudo midiático dos Marinho.
Só para relembrar, em 1982, Brizola deparou-se com um inescrupuloso inimigo – Roberto Marinho e todo o seu poder centrado nas organizações Globo. Marinho, que controlava o jornal “O Globo” e a Rádio Globo, fez pressão contra Brizola quando este almejava o cargo de ministro da Fazenda de João Goulart. Vale lembrar que Roberto Marinho foi um dos empresários que apoiaram o Golpe de 1964, golpe que forçou Brizola a ir para o exílio.
Em 1982, Roberto Marinho foi acusado de comandar o esquema do caso Proconsult, que visava impedir a vitória de Brizola na eleição para governador. O plano de fraude comandado por Marinho foi denunciado pelo “Jornal do Brasil” e abordado após Brizola denunciá-lo pessoalmente na imprensa.
Em 1984, a briga com o “império global” ganhou mais visibilidade, pois Brizola quebrou o monopólio da TV Globo na transmissão do Carnaval, concedendo o direito de transmissão para a TV Manchete. A emissora de Marinho então desistiu de cobrir o evento, mas a expressiva queda de audiência durante os desfiles fez a Globo recuar e aceitar transmitir o Carnaval, a partir do ano seguinte, em conjunto com a Manchete.
Em 1989, Brizola, que liderava as pesquisas de opinião para eleição presidencial, sentiu-se sabotado pela TV Globo após ter feito contra ele uma série de acusações pessoais em rede nacional.
No caso do presidente Lula, estamos tratando de uma situação atual, e que dispensa nos estendermos para relembrar a notória e constante oposição da emissora dos Marinho a este Governo.
A prole dos Marinho traz em sua genética esse caráter, ou seja, tentar execrar os que, em seu entender, ameaçam uma suposta hegemonia.
Outro emblemático, pérfido e lamentável episódio foi o que a Globo fez com o caso da Escola Base, atingindo seus proprietários e familiares com acusações infundadas de abuso sexual de menores.
Enquanto a “todo-poderosa” despencava vertiginosamente, a Rede Record ascendeu, ganhou terreno, e continua avançando no mesmo mercado da desesperada e velha Organização Globo.
Velha no sentido literal, em se tratando de suas tentativas de ações estratégicas que vêm desde antes, durante e após a ditadura, isto é, de métodos retrógrados que não cabem e nem funcionam na sociedade atual.
Já que estamos falando de ações ultrapassadas, que a sociedade moderna não digere, há um antigo ditado bem próprio ao péssimo e amargo momento vivido pela emissora dos Marinho: “Enquanto os cães ladram, a caravana da Record avança” (e como avança!).
No desespero, a emissora Globo, mais uma vez, como em tantas outras em que se viu acuada de alguma forma, tenta impor o seu costumeiro estilo “highlander”, ou seja, “só pode haver um”.
Só que o grupo Record topa o enfrentamento sem medo e sem desespero, até porque o império decadente está sendo o da Globo.
Em uma crise de identidade, fragilizada, a emissora dos Marinho parte para a leviandade, golpes e ataques inescrupulosos, como sempre lhe foi peculiar. Quando a prole dos Marinho se vê acuada, esgotada em todos os seus recursos, a falta de alternativas somada ao seu desespero a leva a esquentar o forno do inescrúpulo, e requentar os pães dormidos.
Afinal, a tradição familiar precisa ser preservada! No entanto, eles parecem ter se esquecido de que, como já exemplificados, seus tiros têm saído pela culatra – que o diga o testemunho do presidente Lula e de todos os que são simpáticos a ele.
Os ataques globais sobraram até para o novo presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) por declarar aprovação ao Governo Lula, sem falar em profissionais do jornalismo, que em suas análises políticas sofreram pressões, chegando a casos de demissão pelo fato de, em seus comentários políticos, enaltecerem o Governo Federal.
A Globo, diante da Record, está se postando como um cachorro pequeno que, mediante a sua fragilidade, rosna e ataca o maior. Uma de suas maiores especialidades é requentar velhas notícias.
(*)Carlos Oliveira é especialista em comunicação e política