Repórter
MATIAS CARDOSO - Dois projetos de emenda constitucional, com datas diferentes, tramitam na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, criando o Dia dos Geraes, quando a capital do Estado seria transferida para Matias Cardoso, no Norte de Minas, cidade considerada o primeiro povoamento mineiro. A deputada Ana Maria Resende (PSDB) apresentou proposta instituindo o dia 23 de março, e o deputado Paulo Guedes (PT), em 8 de dezembro.O antropólogo João Batista Costa Almeida, do Movimento Catrumano, autor de estudo que comprovaria ser Matias Cardoso a primeira cidade mineira, alega que as duas datas têm sentido histórico e caberá aos deputados decidirem qual será instituída. O dia 23 de março se refere à chegada do bandeirante Matias Cardoso à região, e em 8 de dezembro comemora-se o dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade.Mesmo sem mostrar preferência, ele diz que seria mais fácil aprovar o dia 8 de dezembro, pois várias cidades têm feriado nessa data, já que a padroeira é a mesma. Os historiadores pretendem criar a Comenda Matias Cardoso, que seria entregue a lideranças e personalidades mineiras e brasileiras.O Movimento Catrumano foi criado em 2005, por iniciativa do então secretário de Meio
Mariana apóia projeto e pede reforma de igreja
A criação do Dia dos Geraes tem apoio de entidades culturais de Mariana, que é transformada em «capital mineira» no dia 16 de julho. O presidente licenciado da Academia de Letras e da Fundação Cultural da Arquidiocese de Mariana, Roque Camelo, considera o dia 8 de dezembro ideal, pelo sentido religioso e por ser feriado em várias cidades do Estado.As duas entidades podem participar de uma campanha pela restauração da Matriz de Matias Cardoso, que, segundo Roque Camelo, é prioritária, devido a sua situação precária. Ele entrou em contato com o presidente do Instituto Histórico de Montes Claros, Wanderlino Arruda, na última quarta-feira, propondo uma parceria nesse sentido. «A restauração da igreja deverá custar R$ 3 milhões, que é o valor médio das obras nessa área. É preciso buscar patrocínios, como fizemos em Mariana», afirma Camelo.Segundo ele, recursos podem ser tentados junto à Coteminas, devido à ligação do grupo têxtil com o Norte de Minas, onde surgiu, e à Petrobras, que vai inaugurar, em outubro, uma usina de biodiesel em Montes Claros. Roque Camelo afirma que o interesse do vice-presidente da República, José Alencar, fundador da Coteminas, pela preservação do patrimônio histórico pode ser percebido em Mariana, onde, por intermédio do então Grupo Wembley, ele patrocinou a restauração da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no distrito de Camargo.De acordo com Roque Camelo, a criação do Dia de Minas foi decorrência de uma campanha que começou há 30 anos, com objetivo de corrigir distorções históricas, como o fato de os mineiros darem importância a 21 de abril, data da morte de Tiradentes. «Tiradentes era um mineiro que foi morto no Rio de Janeiro. Não é uma data de Minas. Após estudos, mostrei que Mariana foi legalmente constituída em vila e, depois, em cidade, a única em Minas Gerais, no período colonial, por mais de cem anos, já que as outras povoações continuavam como vilas. Além disso, Mariana, para ser sede episcopal, não poderia ser vila. Por isso, a então Vila Ribeirão do Carmo teve de ser transformada em cidade», conta Roque Camelo.Ele afirma que, ao propor que Mariana fosse sede do Dia de Minas, não desconhecia que outras localidades foram povoadas primeiro, como Matias Cardoso e várias outras. «Mariana foi escolhida por ser a primeira vila, cidade e capital, o que lhe dava primazia. Eram muitos povoados, mas nenhum tinha o caráter de permanência que Mariana teve», argumenta.Em 1979, Mariana foi reconhecida, por meio de lei ordinária, como a primeira capital de Minas Gerais e, depois, em 1989, pela Constituição Estadual. «Na época, surgiram vários movimentos separatistas no nosso território. Propus o Dia de Minas para resgatar o espírito mineiro», alega Roque Camelo