quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Temporal de granizo mata um e leva destruição a várias cidades Mineiras


Carlos Calaes, Celso Martins e Silvana Miranda
Repórteres


Belo Horizonte, Contagem, Betim sofreram ontem com um forte vendaval de granizo, que começou a cair por volta das 15 horas. Centenas de casas ficaram destelhadas, e houve feridos leves. Em Betim, um casal está desaparecido, e pode ter sido vítima da chuva. Já em Contagem, os bombeiros confirmaram a morte de um homem, que havia subido no telhado para consertá-lo enquanto chovia, e caiu. Ele era morador do Bairro Água Branca. Contagem, onde até a sede da prefeitura foi atingida, decretou situação de emergência e pediu socorro à Coordenadoria de Defesa Civil do Estado. Há 119 pessoas desabrigadas na cidade. A falta de energia elétrica atingiu mais de 40 mil pessoas, de acordo com a Cemig. As pedras de gelo que caíram nestas cidades assustaram os moradores, quebrando vidros de janela e portas e amassando carros. Elas chegavam ao tamanho de uma bola de sinuca, furando telhas e impedindo pessoas de saírem de onde estavam. Tapetes de gelo se formaram em vários locais. Na capital as regiões mais afetadas foram Pampulha, Oeste e Leste.Em Betim, o vendaval durou cerca de 20 minutos e provocou muito estrago. Pelo menos cem veículos foram danificados pelo gelo. No Bairro Imbiruçu, um dos mais atingidos, homens do Corpo de Bombeiros retomam hoje pela manhã as buscas no Córrego Areias, onde um casal teria sido arrastado pela enchente ontem à tarde. A moto deles foi encontrada ontem.A Defesa Civil Municipal recebeu cem chamadas de moradores que tiveram os telhados danificados e de empresas com toda cobertura destruída pelo granizo. O superintendente de Defesa Civil Municipal, coronel Waldemar Roberto, acredita que o número de ocorrências chegaria a 200 até o final da noite. A Região Central de Betim e os bairros Petrópolis, Marajoara e São João foram os mais atingidos. Em algumas ruas, o granizo acumulado chegou a quase um metro de altura. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, houve 22 acidentes nas BRs na Região Metropolitana, nenhum com gravidade.Dos afetados pela queda de energia elétrica, 20 mil são de Belo Horizonte, principalmente nos bairros Venda Nova, Glória, Ipanema e Floresta. Os outros 20 mil foram em Contagem e Betim. Segundo a Cemig, até o início da noite, 110 equipes estavam trabalhando no religamento das redes, e a previsão era que o fornecimento fosse reestabelecido até a madrugada de hoje.De acordo com o meteorologista Ruibran dos Reis, do Instituto MG Tempo Cemig/PUC Minas, a previsão para hoje na Região Metropolitana de BH é de tempo nublado a parcialmente nublado, sem chuvas. O clima deve permanecer assim até segunda-feira, quando uma nova frente fria com ar polar vinda do Oceano Pacífico chega ao sudeste, causando novas chuvas.Na Região da Pampulha, um dos piores estragos foi na Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Terezinha, que ficará fechada nos próximos dias. Ela foi totalmente destelhada, e houve perda de equipamentos e livros. Alunos desmaiaram, mas ninguém ficou ferido.

(Com Augusto Franco e Gabi Santos)

Fúria da natureza arrasa o Sul de MGMargarida HallacocDa SucursalVARGINHA - As tempestades de vento e granizo, que há uma semana vêm assustando os moradores dos municípios do Sul de Minas, voltaram a fazer estragos no fim da tarde de terça-feira em Campo do Meio, Campos Gerais, Três Pontas, Três Corações, Lambari, Conceição do Rio Verde, Baependi e Varginha. O temporal começou por volta de 16 horas. Em alguns lugares nem chegou a chover forte, mas os ventos e as rajadas de granizo foram suficientes para causar pânico e deixar muita gente em apuros. Em Varginha, a região mais prejudicada foi a central da cidade. O granizo caiu apenas durante quatro minutos, mas como as pedras eram grandes, furaram telhados, amassaram a lataria de veículos, quebraram vidraças e desfolharam árvores inteiras.Ao final da chuva, o que se via no Centro de Varginha era um monte de pedras e folhas, que forraram as praças e cobriram os carros que estavam estacionados. Toldos, luminárias e placas de pontos comerciais foram arrancados e alguns arremessados pelo vento, causando medo em quem estava na rua. A fiação elétrica foi atingida, os semáforos apagaram e o trânsito travou por alguns momentos, gerando confusão.Lidiane Silva conta que estava estacionando seu veículo, em frente ao colégio do filho, quando começaram a cair as pedras de granizo. «Não deu tempo de descer do carro. Eu só ouvia os estrondos e, quando vi o tamanho das pedras na rua, pensei que ia quebrar tudo. Tive medo de estourar o para-brisa, tamanho era o barulho das pancadas», disse.Na conhecida Praça do Sapo, a chuva desfolhou as árvores e cobriu de gelo o calçamento. O granizo amontoado próximo ao meio-fio durou até a noite. Em frente à Escola Estadual Brasil, um fio de alta tensão se soltou, deixando a região sem energia elétrica. Nas proximidades da Avenida Doutor Módena, uma árvore foi arrancada pelo vento, quebrando um poste em dois lugares. Bombeiros trabalharam durante toda a manhã de ontem no corte de galhos e na limpeza do local. Moradores ficaram sem energia.Na Vila Mendes, uma família teve a casa destelhada e vidros quebrados pelas pedras. Eles perderam computador, máquina fotográfica, colchões e móveis. O Corpo de Bombeiros realizou mais de 30 atendimentos a moradores em apuros por causa da tempestade. O telhado da Delegacia da Polícia Civil ficou danificado, assim como o da Fundação Varginhense de Assistência ao Excepcional (Fuvae), onde foram quebradas as telhas de barro e de vidro, utilizadas para clarear ambientes.Em Baependi, começou a chover por volta de 17h30 de terça-feira. Meia hora de chuva foi suficiente para destelhar e inundar casas dos bairros Palmeira e Coab. Em Lambari, a chuva, que já havia feito estragos na noite de segunda-feira, voltou a assustar na noite de terça, causando mais danos.Em Conceição do Rio Verde, ontem foi dia de muito trabalho no atendimento às mais de 700 famílias que procuraram ajuda na Defesa Civil. Elas queriam se cadastrar, em busca de ajuda para os prejuízos que sofreram. De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Pedro Cláudio Felipe, o município inteiro foi atingido. Em Boa Esperança, o vento e as pedras de granizo também trouxeram susto e prejuízos, em especial às lavouras de café.FGTS poderá ser sacado em Carandaí para obrasAugusto Franco e Jaqueline da MataREPÓRTERESCom mais de 3 mil pessoas desabrigadas e desalojadas em decorrência de um temporal e por uma chuva de granizo na última terça-feira, que durou pouco mais de meia hora, Carandaí, Região Central do Estado, pode receber o status de situação de emergência nacional. Caso isso ocorra, os prejudicados poderão ter o direito de sacar até R$ 2.600 de seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), caso tenham saldo suficiente para obras. Hoje uma equipe da Coordenadoria Nacional de Defesa Civil chega à cidade, que tem cerca de 22 mil habitantes, para avaliar os danos. Desde terça-feira, o município decretou estado de calamidade pública. Ontem, representantes da prefeitura, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e de associações comunitárias se reuniram na sede da administração municipal para definir prioridades. Segundo o secretário executivo da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), tenente-coronel Alexandre Lucas, metade do hospital local, que foi destelhado, ficará interditado, assim como dez escolas, que tiveram telhados e paredes danificados. Eles terão que passar por reformas antes de voltarem a ser utilizados. Outras duas instituições de ensino estão sendo avaliadas e também poderão ficar fechadas.«Não é possível cobrir o hospital com lona por causa do madeiramento. A solução que encontramos é isolar o andar de cima, ou seja, quase metade do hospital, definindo áreas de escoamento das águas. Primeiro refaremos os telhados. Só quando as chuvas estiarem um pouco poderemos começar a trabalhar na pintura e nas reformas internas», avaliou o engenheiro Alfredo Gomes de Miranda, do Departamento de Estado de Obras Públicas (Deop). Mais duas equipes do órgão chegarão à cidade hoje para avaliar outras construções afetadas.A Copasa, de acordo com Alexandre Lucas, enviaria nesta quinta-feira mais três caminhões-pipa e água em copos para os desabrigados, que estão alojados, provisoriamente, em 12 locais, entre galpões, associações comunitárias, igrejas católicas e evangélicas e em casas de famílias mais abastadas, que abriram as suas portas. Ainda na reunião ficou decidido que a Prefeitura de Carandaí e o Governo do Estado doarão telhas coloniais a famílias carentes que tiveram seus telhados destruídos. Os bombeiros já estão fazendo o levantamento dessas famílias. Os primeiros moradores contemplados serão os dos bairros Cohab 1 e Cohab 2. Alexandre Lucas observa que pouco mais de 40 municípios, dos 853 de Minas Gerais, têm Coordenadoria de Defesa Civil atuante e que age de acordo com o conceito que lhe compete - prevenir, preparar, dar respostas e reconstruir cidades atingidas por calamidades. Outros 598 têm o órgão pelo menos no papel. Ele considera que o fato do coordenador municipal da Comdec de Carandaí, Levindo Lagda, ter feito um curso de capacitação com a Cedec ajudou nos procedimentos que estão sendo tomados depois da devassa provocada pelo temporal. Ainda na quarta-feira, a cidade já começava a receber as doações, distribuídas em três caminhões. São 300 cestas básicas, 180 colchonetes, 180 cobertores, 17 toneladas de lona, roupas usadas e demais doações. De acordo com o meteorologista do MG Tempo Ruibran dos Reis, as chuvas ocorrerão com mais intensidade em novembro e dezembro nas regiões Norte, Nordeste e Noroeste. Estão previstas novas chuvas de granizo, em outubro, principalmente, para o Sul de Minas e Zona da Mata. A meteorologia também prevê que as chuvas serão de 15% a 20% acima da média pluviométrica dos meses de novembro, dezembro e janeiro (a média histórica é de 750 milímetros). «As chuvas devem se concentrar mais no Noroeste, Alta Paranaíba, Alto São Francisco, Zona da Mata e Campo das Vertentes e Região Metropolitana de Belo Horizonte», disse Reis. Na madrugada de ontem, ocorreram chuvas mais leves no Sul, Zona da Mata, Leste e na Região Metropolitana da capital.Escola fecha por uma semana em BH para reconstruçãoGabriel PascoalEspecial para o HOJE EM DIAA Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Terezinha, que fica no bairro de mesmo nome da Região da Pampulha, ficará pelo menos sete dias sem aulas para a reconstrução de suas instalações, destruídas pela chuva de granizo de ontem. Todas as salas da parte superior, refeitório, banheiros, biblioteca e sala de computação foram destelhadas e inundadas, perdendo equipamentos e livros. De acordo com a vice-diretora Terezinha Karl, nenhum dos 530 alunos do turno da tarde ficou ferido, apenas ocorreram alguns desmaios diante do pânico que se formou.A professora de Artes Sílvia Prata, que teve três vidros de seu Gol estilhaçados pelas pedras de gelo, contou que dava aula no momento em que a tempestade chegou. «As janelas da parte esquerda começaram a estilhaçar. Levei os alunos para perto das janelas da direita, que também começaram a quebrar. Ficamos ilhados no meio e como parecia que não pararia mais, abri a porta e mandei que corressem», conta ela. O granizo também derrubava a cobertura de amianto e madeirite das salas superiores e os alunos desceram às pressas para a parte de baixo.Terezinha Karl contou que 30 alunos da 6ª Série lanchavam no refeitório quando parte do telhado caiu, por sorte onde ninguém estava sentado. Mas as crianças correram para o pátio em busca de abrigo e a chuva destruía também a sua cobertura. Por fim, todos foram abrigados nas salas inferiores. O prédio da biblioteca também foi totalmente destelhado e muitos livros atingidos pela chuva. O mesmo aconteceu na sala de computação, que fica no segundo andar. Todos os equipamentos ficaram molhados.Dezenas de moradores das imediações da Rua João Evangelista, ainda no Santa Terezinha, também tiveram a cobertura de amianto destruída pelo granizo. «Nunca vi nada igual em minha vida. Achei que minha casa ia desabar», conta a dona de casa Vera Lúcia Pereira da Silva, 53 anos, enquanto acabava de retirar a água que inundou todos os cômodos de sua casa, que fica no número 30. Rachaduras apareceram em sua cozinha e sala. Ela mostrou o telhado esburacado do quarto onde sua neta, Letícia, de 8 meses, dormia no momento da tempestade. «Por sorte nenhum pedaço a atingiu», disse ela.

Contagem dá início a campanha

Contagem,uma das cidades mais afetadas da Região Metropolitana e que decretou estado de emergência após a morte de uma pessoa, começa hoje uma campanha para arrecadar telhas para a população que teve suas casas danificadas. De acordo com a coordenadora da Defesa Civil de Contagem, Cristina Moraes, um balanço parcial de pessoas feridas e prejuízos provocados pelo temporal ainda estava sendo providenciado. Hoje, um helicóptero da Defesa Civil do Estado deverá fazer sobrevôo no município para uma avaliação mais detalhada dos estragos. A sede da prefeitura também sofreu avarias, segundo informou Cristina Moraes.No Bairro Alvorada, ao longo da Avenida José Luiz da Cunha, as pessoas ficaram ilhadas por causa da água e gelo no restaurante Parada Obrigatória, na Padaria e Confeitaria Soft e até numa barbearia. Apesar do frio e acúmulo do gelo, funcionários com rodos tentavam remover o granizo, que cobriu as bocas-de-lobo e impediu o escoamento da água.
Na escola Casinha Feliz, professores e crianças também ficaram ilhados por causa do gelo acumulado na porta. A costureira Hilda Caputo, 40 anos e a ajudante de serviços gerais, Ana Beatriz da Silva, 50 anos, não se intimidaram e saíram andando com dificuldade com o gelo na altura dos joelhos com os filhos nos braços.Na Ceasa, o temporal também fez muitos estragos. A grande placa logo na entrada foi parcialmente destruída. No pátio da Cardiesel, de propriedade do deputado estadual Jairo Lessa (PR), por pouco não acontece uma tragédia. Um funcionário, cujo nome não foi divulgado, ficou ferido quando o telhado não suportou o peso do gelo, que entupiu a calha, e desaabou. De acordo com a gerente Cássia Mara Teixeira, 41 anos, sete veículos de clientes e funcionários ficaram avariados. O prejuízo foi estimado em R$ 200 mil. Ao lado, uma parede inteira e o telhado da Mercedes também desabou, mas ninguém se feriu. Por todo lado havia pessoas retirando o gelo e comentando sobre o temporal.No Bairro Bandeirantes, na Região da Pampulha, na Zona Norte, dezenas de automóveis ficaram com o teto e o capô amassados, e os vidros laterais ou pára-brisas quabrados. «O povo aqui está apavorado», disse a moradora Rosana Maia Olímpio. «Aqui, na Rua Major Messias de Menezes, o estrago foi grande porque caíram pedras de gelo do tamanho de bolas de ping-pong». Em Santa Luzia, a chuva de granizo começou por volta de 15h30 e durou cerca de 20 minutos. Segundo a Defesa Civil, não trouxe grandes estragos.