quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Apelo emocionante de filha de 2anos,faz homem se render

«Faz isso não, papai». O apelo de Gabriela Cristina Moreira Seixas, 2 anos, sensibilizou seu pai, o montador Vítor Claiton Seixas de Almeida, 27, e fez com que ele libertasse a família feita refém, na segunda-feira, em Cristiano Otoni, Região Central de Minas. «Ele (Vítor) ficou com cara de choro. Parece que começou a pensar na situação e disse que ia liberar todo mundo. Falou que era para saírmos, que ele ia para cima da polícia para ver no que é que dava», contou o comerciante Wellington Moreira, 22 anos.Porém, a ex-mulher do montador, Jaqueline Moreira Seixas, 29 anos, vítima da violência do ex-marido outras vezes, não permitiu que Vítor ficasse sozinho. Para evitar que terminasse morto num tiroteio, acompanhou-o até que se rendesse aos policiais. O drama da família Moreira começou por volta de 7 horas de segunda-feira, quando o montador Vítor Claiton Seixas de Almeida invadiu a casa dos ex-sogros, na pacata Cristiano Otoni, de 4.881 habitantes.Transtornado e armado, queria forçar sua ex-esposa a reatar o relacionamento e voltar com a filha, de 2 anos, para Itú, em São Paulo, onde moravam antes da separação. Enfurecido, fez reféns, além das duas, os ex-sogros, Madalena e Antônio Moreira, de 57 e 60 anos, respectivamente, e o cunhado, Wellington Moreira.Foram pelo menos 7 horas de negociações com o Grupo de Ações Táticas Especializadas (Gate) da Polícia Militar. Os agentes ofereceram advogado e acompanhamento de promotor de Justiça para que Vítor se rendesse. Um juiz até ofertou um acordo para que um antigo processo respondido por Vítor, por lesão corporal, pudesse ser arquivado, caso os reféns fossem libertados. As conversas não avançavam. O ímpeto do rapaz estava irredutível. Dezenas de policiais fortemente armados, atrás de escudos balísticos ou postados com fuzis no alto de outras casas, cercavam o cativeiro. O segundo andar da construção e a cozinha, que ficava nos fundos, já tinham sido invadidos pelos militares, que esperavam apenas uma ordem para invadir a residência e, na linguagem deles, «anular a ameaça».Dentro da casa o clima tenso era sentido por todos, segundo o ex-cunhado do montador, o comerciante Wellington Moreira. Vítor andava de um lado para o outro, dizendo que mataria todos, menos a filha. Havia, inclusive, disparado um tiro no chão para demonstrar seriedade. «Minha irmã e eu brincávamos com minha sobrinha no chão. Meus pais estavam brancos. Assentados como se paralisados no sofá da sala», lembra. «Disse para ela (Gabriela), que o pai (Vítor) estava bravo. Ela virou para ele e disse: «Faz isso não, papai’», lembra. Para o tio, a menina, que é de poucas palavras e parecia não entender o que se passava, foi quem primeiro amoleceu o coração do sequestrador.Vítor está detido no presídio de Conselheiro Lafaiete, onde responderá por seqüestro, cárcere privado e porte ilegal de arma de fogo. Quando chegou na delegacia, na noite de segunda-feira, afirmou que estava desesperado. Mas ontem, seu advogado, Erlon Carlos, disse que o montador não se lembrava mais de nada. «Ele teve um branco. Vou pedir um exame de sanidade mental, porque acho que pode precisar de algum tratamento». Ontem, a família Moreira voltou aos afazeres normais e ao trabalho. «Queremos esquecer disso tudo. Agora é com a Justiça», disse Wellington, com a sobrinha ao colo.