sábado, 23 de agosto de 2008

Mais da metade das chamadas feito para os bombeiros são trote

Mais de 1/3 do total de ligações feitas para o 193, número de emergência do Corpo de Bombeiros, é trote. Na maioria das vezes, 37% das chamadas são realizadas por crianças ou por pessoas desocupadas. Os telefonemas indevidos geram prejuízo financeiro ao Estado e retardam o atendimento às vítimas de acidentes. «As viaturas de resgate e de combate a incêndio são deslocadas para atender ocorrências que não existem, deixando na espera quem realmente está correndo risco de morte», alertou o comandante Operacional do Corpo de Bombeiros, coronel Cláudio Teixeira. O oficial afirma que uma campanha realizada este ano, que teve como público alvo crianças, as que mais passavam trote para o 193, permitiu uma queda de 60% para 37%.Não existe uma estatística sobre o valor dos prejuízos ao Estado com os deslocamentos das viaturas e ambulâncias de resgate para atender ocorrências falsas. O coronel Cláudio Teixeira afirma que, só no ano passado, foram 118 deslocamentos desnecesários. Em um deles, em setembro, nove viaturas e o helicóptero dos bombeiros saíram de Belo Horizonte em direção a Nova União para atender feridos de um ônibus que teria batido em um outro na BR-381. Como se tratava de uma ligação falsa, os gastos do deslocamento de 40 quilômetros foi de cerca de R$ 15 mil.De acordo com um levantamento dos bombeiros, a maior parte das ligações é feita por crianças e adolescentes de 7 a 14 anos de idade e sempre das 12 às 14 horas, horário em que ficam mais tempo sozinhas em casa e sem ocupação. «Na maioria das vezes, as viaturas de salvamento e resgate são deslocadas quando a pessoa ainda está na linha, como ocorreu no trote de Nova União. Como a missão dos bombeiros é salvar vidas, às vezes não temos como ficar checando todas as informações», afirmou coronel Cláudio Teixeira. O autor de um trote pode pegar até dois anos de prisão, pena prevista para perturbação da ordem pública e comunicação falsa de crime.No 190 da Polícia Militar, o índice de ligações de comunicação falsa de ocorrências ou mesmo de cantadas aos atendentes correspondia a 45%, nos últimos dois anos, mas caiu para 17% neste ano. O comandante do Centro Integrado de Comunicações Operacionais da PM, tenente-coronel Amaury Lopes Machado, afirma que das 23 mil ligações recebidas, diariamente, pelo 190, que atende 24 cidades, incluindo Belo Horizonte, cerca de 3.800 são de trotes. De acordo com o oficial, a maior parte das ligações indevidas era feita de celulares, mas depois que as operadoras começaram a colaborar, informando o nome e endereço do dono da linha, houve uma queda significativa. Ele afirma que a Polícia Civil já abriu dezenas de inquéritos de pessoas que passaram trote para a Polícia Militar.Um projeto que tramita na Assembléia Legislativa de Minas prevê multa de até R$ 36, por trote, para o dono da linha. Antes do pagamento, o proprietário será avisado, por meio da conta de telefone, que constará data e horário da chamada, permitindo ao titular da linha identificar o possível responsável. O valor arrecadado será destinado ao Fundo Estadual de Segurança Pública. Antes de ser votado em plenário, o projeto de autoria do deputado Dinis Pinheiro (PSDB) terá que passar pelas comissões da Assembléia Legislativa, a primeira deverá ser a de Constituição e Justiça.